Nem toda vírgula dá o tom da coisa

E foi assim, nesse impulso que você deve ser capaz de imaginar, que ela danou a escrever; a digitar. Os dedos frenéticos, as pupilas miúdas, olhos vibrantes. Escreveu como se a vida dependesse disso. Escreveu e apagou as sugestões do corretor automático, que teimava em se meter, atrapalhando o fluxo ao mesmo tempo em que criava fluxos. Escreveu tal qual uma toupeira cava. Tal qual um felino foge. Um corpinho médio de brasileira 1,64, deixando-se dissolver no espaço e tempo para ser só mente. O dedão do pé balançava como se também quisesse digitar, tenso. Que tic patético, pensou ela — que considera as coisas patéticas as mais escrevíveis, as mais dignas de escrevimento.

Eu tenho a voz certa, eu ouço o eco e não agride a minha crítica; tenho a voz perfeita para o que eu quero falar.

E faltou o que ela queria. Sumiu, como um gozo, se acabando enquanto ela introduzia as palavras inférteis. A ideia mesma que foi o mote de todo esse disparo, dissipou-se. E tome-lhe frustração, terça-feira. Boa noite.

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