Título

O título é sempre a parte mais difícil de um texto. Qualquer texto. É porque escrever, por mais trabalhoso que seja, é algo que de alguma forma flui; e cada frase, por mais bem pensada que seja, nunca terá o mesmo peso do título. Nem a frase de encerramento do texto, ou a frase que o introduz. Qualquer palavra fica muito pequena no título e a sensação de que dar um título a um texto é como dar um nome a uma pessoa é muito forte; é uma responsabilidade sem tamanho, nomear aquele textinho para sempre…! Claro que muitas vezes dá para editar, trocar o nome, reinventar. Mas não tô falando desse processo, tô falando do depois, quando você lança o texto para o mundo. Aí, já foi. Ele já tem nome, personalidade, não há mais nada que você possa fazer por ele, a não ser observá-lo de longe e estar sempre ali pra responder por ele quando necessário. Um texto que muda de nome depois que chegou às mãos do leitor fica irreconhecível, porque o título é como o rosto de alguém: você primeiro olha pra ele e, mesmo que seja uma análise muito rápida, é a partir dali que você constrói aquela pessoa – no caso, aquele texto.

Ponha-se no lugar do leitor: quando você lê um livro, ou conto, ou qualquer outra coisa traduzida e em traduções diferentes os títulos, mesmo que muito parecidos, terminam com alguma diferença. Você tem sempre o seu título preferido e, obviamente, vai ler o texto do título preferido; é o mesmo texto, traduzido de um jeito que você julga ser melhor, porque o título é melhor, ou porque você já se acostumou com aquela tradução. E não adianta dizer que lá, na língua da edição original, é o mesmo texto: seja o corte de cabelo, a maquiagem, os acessórios, qualquer outra coisa, você prefere o texto que você foi mais com a cara. O texto do amor ao primeiro título.

 

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